Considerada uma das mais importantes estradas do Brasil, a Rodovia Presidente Dutra, ou simplesmente Via Dutra, já é uma senhora com mais de 70 anos. Por seus 402 quilômetros de asfalto, circulam mais de 87 milhões de veículos a cada ano.
Quem hoje percorre de forma despreocupada o trajeto entre duas das maiores cidades brasileiras, nem sempre tem a dimensão da importância desta rodovia para o desenvolvimento do país. E do quanto a sua construção foi emblemática e desafiadora.
Neste post, vamos falar um pouco sobre a história da Dutra, que ilustra o quanto o investimento em infraestrutura de transporte pode ser transformador.
No início, a BR-2
BR-2 foi a primeira denominação da Via Dutra. A rodovia foi inaugurada em janeiro de 1951 pelo então presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, que posteriormente passou a dar nome à nova via. Foi construída para substituir a antiga Estrada Rio-São Paulo, até então a única ligação por terra entre as cidades, que tinha somente 5 quilômetros asfaltados.
À época de sua inauguração a Via Dutra contava com apenas 338 km concluídos, sendo mais de 90% em pista simples, operando em mão dupla. Mesmo assim, já era considerada a rodovia mais moderna do Brasil. Somente em 1967 sua duplicação foi concluída.
A função da Via Dutra era ligar as duas cidades mais importantes do Brasil na década de 1950: São Paulo já era o centro financeiro do país e o Rio de Janeiro ainda era a capital federal. Mas a estrada cruzava ainda 34 municípios, e muitos deles experimentaram um boom de desenvolvimento a partir do asfalto da Dutra.
Desafio de engenharia
Construir os 402 quilômetros da Via Dutra representou um desafio para a engenharia da época. Obstáculos naturais do trajeto, como banhados e áreas rochosas, exigiram a aplicação do que havia de mais moderno em tecnologia de construção à época para tirar a estrada do papel.
Entre os diferenciais de seu arrojado projeto estavam aclives e declives menos acentuados e curvas mais suaves do que o usual. O resultado foi uma estrada com 111 quilômetros a menos do que a antiga Rio – São Paulo. O tempo de viagem caiu de 12 horas para 6 horas.
Obstáculos
Alguns trechos da rodovia eram especialmente desafiadores. Um deles era o chamado retão de Jacareí (SP), cujo solo instável era considerado inadequado para a rodovia. Sua conclusão consumiu 12 milhões de metros cúbicos de terra, o equivalente a 1,6 milhão de caminhões cheios.
A transposição do trecho de rochas na Serra das Araras também foi emblemática. Para cruzar a região conhecida como Gargante de Viúva Graça foi preciso escavar 14 metros de um paredão de granito.
Os números que envolveram a construção da Via Dutra ainda impressionam, mesmo 70 anos após a sua conclusão:
- 2.657.746 m² de pavimentação;
- 1,3 milhão de sacos de cimento;
- 8 mil toneladas de asfalto;
- 20 mil toneladas de alcatrão;
- 15 milhões de m³ de movimento de terra;
- 300 mil m³ de cortes;
- 7.021 m de extensão em 115 pontes, viadutos e passagens;
- 30 milhões de m² de faixa de domínio.
Fonte: Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR)
Cargas e passageiros
Além de conduzir mais da metade do PIB brasileiro, a Dutra também foi palco de uma acirrada disputa pelo transporte de passageiros. Empresas como a Viação Cometa, a Expresso Br
asileiro e a Itapemirim investem pesado em veículos importados e até em serviço de bordo para conquistar clientes.
Nas décadas de 1980 e 1990, porém, o baixo investimento em manutenção resultou na deterioração da estrada. Além do custo logístico, a Via Dutra havia se tornado uma rodovia perigosa, palco de inúmeros acidentes. Para recuperar a estrada e garantir sua operação, em 1996 ela foi concedida à iniciativa privada, e a CCR NovaDutra assumiu sua gestão.
Após mais de 25 anos e R$ 22 bilhões em investimentos realizados, a Dutra voltou a ser uma rodovia modelo. Neste período foram construídos 94 km de novas vias marginais à rodovia e utilizados mais de 22,9 milhões de m² no recapeamento de suas pistas. E o índice de mortes registrad
os na estrada caiu 89,6%. Segundo a CCR, somente em 2019, circularam pela estrada 87,5 milhões de veículos.
A concessionária acaba de ter seu contrato renovado por mais 30 anos, por meio de licitação. Neste período, deverá investir na Via Dutra e na BR-101, que integra o lote, R$ 14,8 bilhões.