Infraestrutura

Covid-19: pandemia e impactos na infraestrutura
9 de abril de 2020 | Por Natália Tokuzumi

A pandemia mundial causada pelo coronavírus (Covid-19), representa um grande impacto em nossas vidas, em nossa rotina, em nossos costumes. Passamos a ser absolutamente rigorosos quanto às medidas de isolamento e prevenção de saúde, pela ameaça de colocar em risco a nossa família e pessoas próximas. Isso demonstra um sentimento de consciência, coletividade e respeito na sociedade, e boa parte desses novos costumes deve permanecer.

Em relação à infraestrutura, em um cenário de emergência sanitária  instalado em todo o mundo, pode-se dizer que o setor terá um papel fundamental na retomada pós Covid-19

As medidas de prevenção contra o coronavírus recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como lavar as mãos com água e sabão, são quase impossíveis de serem adotadas por boa parte da população brasileira. Dados do Sistema Nacional de Informação sobre o Saneamento (SNIS) mostram que 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada e cerca de 100 milhões não têm serviço de coleta de esgoto. 

Por isso, a convicção sobre a implantação de um novo marco regulatório para o saneamento que incentive investimentos em infraestrutura, que abra mercado e que permita definitivamente aos brasileiros ter acesso a água potável e ao esgotamento sanitário se mostra cada vez mais relevante nesse momento.

 

 

Outro ponto a ser levado em consideração é que, com o padrão de isolamento, as pessoas estão fazendo menos viagens, e isso impacta diretamente nos serviços de aeroportos e transportes metropolitanos. 

No ambiente de trabalho hoje predomina o home-office, o que gera demanda por uma infraestrutura mais avançada de tecnologia, o que deve acelerar o leilão do 5G. 

Além disso, a construção das rodovias, ferrovias, aeroportos, transportes metropolitanos, redes, etc., é parte representativa do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB), correspondendo a quase 30% de tudo que o país produz de riquezas, e não deve parar, pois os grandes investimentos desta área dependem apenas de prorrogações de contratos, como por exemplo os das empresas RUMO e VALE, que já estão em aprovação junto aos órgãos de controle. 

O aumento da participação do modal ferroviário também é uma realidade que acontece independente da crise, representando uma mudança na matriz de transportes.

 

Impactos de curto para médio prazo

 

Neste cenário podemos destacar três grandes impactos:

 

  1. Adiamento no calendário de leilões do governo federal, que vinha de uma agenda muito intensa. Agora, haverá uma nova leitura do apetite do mercado pelos projetos brasileiros, e uma análise da necessidade de revisão das projeções de demanda nos modelos econômicos desenhados antes da crise;

 

  1. Reavaliação nas concorrências públicas lançadas desde o início do ano. Com a pandemia, as prioridades do orçamento público foram completamente alteradas, e com isso, os orçamentos públicos também irão sofrer mudanças significativas;

 

  1. Revisões em contratos de concessões de aeroportos, rodovias e transportes metropolitanos, visto o grande impacto que a menor circulação de pessoas causará nas demandas que equilibram economicamente esses contratos. Como exemplo, a queda do número de voos no mundo, desde o início de março

 

 

Impactos de médio e longo prazo

 

  1. As modelagens de concessão em estruturação já refletirão essa queda na demanda inicial e a leitura dessa possível mudança de costumes em relação a transportes. Vale ressaltar que os contratos de concessão são de longo prazo – 20, 25, 30 anos – e é consenso que a crise do coronavírus é de curto prazo;

 

  1. O investimento público direto certamente sofrerá uma grande mudança de prioridades de investimento, sendo o saneamento o principal nos estados e municípios, em detrimento de investimentos em manutenção e mobilidade (seja pela iminente promulgação do novo marco regulatório, pela relação direta do saneamento com a saúde das pessoas, ou seja pela restrição orçamentária que terão após os gastos extraordinários incorridos esse ano).

 

Movimentação do setor 

 

Para elucidar a movimentação do setor para mais ou menos aquecida, médio e longo prazo, é preciso dividir o setor em alguns subsetores ou estágios em que os projetos se encontram, que seriam: 

 

  1. Projetos em estruturação para leilões: muito aquecida, mesmo nesse período. Como há um pipeline de projetos no Programa de Parcerias de Investimentos do Governo Federal (PPI), com projetos em consulta pública, projetos em aprovação pelos órgãos reguladores e projetos indo para os leilões, há uma constante renovação da carteira, independente do momento da economia ou da política. Ainda com o amadurecimento da instituição dos Procedimentos de Manifestação de Interesse (PMIs), do fortalecimento da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) como estruturador estatal e dos seus acordos de parceria com o Corporação Financeira Internacional (IFC), e do ingresso ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como grande indutor e agente na estruturação de projetos, essa renovação é cada vez mais veloz e maior. Quem atende a essas demandas são empresas como a BARUFI Consultoria, e por isso essa visão é feita com bastante proximidade.

 

  1. Projetos em contratação por estados e municípios: o investimento público direto já vinha gradativamente ficando mais voltado à infraestrutura para serviços essenciais, como escolas, hospitais e saneamento e, nas regiões metropolitanas, metrô, corredores de ônibus, reservatórios para controle de cheias. Os grandes investimentos em transportes vinham sendo viabilizados através de concessões. 

 

Com a crise do Covid-19, os estados e municípios devem destinar ainda menos recursos para investimentos em infraestrutura e, por isso, nesse ambiente, o mercado para construtoras ficará bem menos aquecido. Além disso, há notícias ainda de reprogramações de pagamentos e inadimplência de prefeituras, o que agrava a situação para quem atua neste mercado. Empresas de economia mista, com Sabesp, por outro lado, fazem investimentos com recursos e financiamentos próprios, e com a crise, devem apenas rever seus cronogramas.

 

  1. Obras em andamento: as obras públicas devem sofrer muito com os efeitos do Covid-19 nos orçamentos estaduais e municipais. Veremos muitas obras paralisadas até o final do ano, e muitas disputas administrativas e atas judiciais em função destas paralisações. Já para as obras privadas (concessionárias de rodovias, saneamento, energia, logística, mineração), as paralisações que ocorreram devem permanecer até o final da quarentena, havendo uma retomada gradativa dos serviços sob condições muito mais rigorosas de saúde e medicina do trabalho (além do que já são).

 

 

  1. Concessões em andamento: a crise do Covid-19 atingiu em cheio a movimentação de pessoas, com significativa queda na demanda das concessionárias de aeroportos e rodovias. Parte desta redução pode até ser permanente, face à potencial mudança de comportamento das pessoas, que trocaram viagens por videoconferências. Este desaquecimento certamente causará revisões nos contratos de concessão, mas sem prejuízo aos serviços entregues aos usuários.

 

  1. Novos investimentos: o mundo vem olhando os ativos de infraestrutura brasileiros com bons olhos, pois eles possuem taxas de retorno melhores do que os juros internacionais, e o Brasil tem fundamentos macroeconômicos sólidos, banco central independente, ambiente regulatório maduro, e projetos muito bem estruturados, com demanda firme, o que continua deixando o país atrativo para novos investidores.

 

Exemplo disso é que já existe uma presença forte de capital estrangeiro, em diversas concessões de infraestrutura no Brasil (espanhóis, italianos, portugueses, canadenses), e é cada vez maior o interesse também de árabes, americanos e chineses, que inclusive já vêm comprando participações em concessões mais antigas, conforme citado neste outro artigo. Selos de sustentabilidade dos projetos também serão mais valorizados para atrair fundos internacionais. 

Por fim, à medida que a infraestrutura melhora, melhora também a oferta de bons serviços públicos ao cidadão e se reduzem os custos de produção e transporte, tornando o país mais eficiente e competitivo nos mercados do Brasil e do mundo.

 

Como reduzir o impacto econômico da pandemia do Covid-19

 

Dentre as lições que podem ser extraídas dessas mudanças na economia e no setor de infraestrutura, destaca-se a necessidade das empresas em serem versáteis e flexíveis em sua forma de pensar, no seu planejamento e em seu modo de agir. É preciso ter a capacidade de se adaptar, sem perder o objetivo. Nenhuma situação é absolutamente definitiva e nada é completamente estático. Neste cenário, a engenharia é uma grande ferramenta para a sociedade, principalmente a longo prazo. Os profissionais que trabalham para ajudar na construção da infraestrutura do Brasil devem estar sempre aptos a exercer seus papéis e trazerem razão e lógica para as discussões, não se deixando abalar com os problema e obstáculos que sempre surgirão, mas sempre pensando nas melhores soluções.

 

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